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O computador na sala de aula
Por Norma Leite Brandão
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As escolas se informatizam... mas o que isso realmente representa de benefício para seu filho nesse momento?
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Nícolas tem dez anos e cursa a quarta série do ensino fundamental de uma grande escola da capital paulista. Aprendeu as primeiras letras e os cálculos numéricos iniciais por meio da utilização de softwares educativos em sala de aula. Suas notas? Excelentes. Nícolas também navega na Internet para realizar suas pesquisas e está permanentemente em busca de novos jogos no computador.
Esse perfil pertence, ainda, a uma pequena parcela das crianças brasileiras mas, sem dúvida alguma, antecipa o que está por acontecer, de forma mais ampla: a cada dia, mais e mais crianças serão iniciadas no uso das máquinas que vieram transformar o mundo nas últimas décadas. Para tal, as escolas mergulharam numa corrida frenética para a aquisição de equipamentos e programas. Buscam se apropriar de uma tecnologia que satisfaça a todas as áreas e.... a todas as faixas etárias. Todas mesmo. Há propostas pedagógicas, projetos escolares, que colocam crianças à frente do micro aos três anos de idade. Acredite se quiser!
Hum...Tudo estaria perfeito, não fossem as inquietações e discordâncias dos especialistas. Sim, a polêmica centra-se não somente na faixa etária, mas também no uso indiscriminado e aleatório que se tem feito da nova ferramenta, no preparo dos professores e, principalmente, na ausência de pesquisas que comprovem, de fato, que os resultados obtidos em sala de aula superam os resultados da tradicional metodologia. Essa é uma fase de transição. Nada está ainda muito definido. Tudo o que ocorre de concreto são diferentes experimentos. Natural que pairem dúvidas!
Um pensar diferente
Se análises mais profundas ainda são incipientes, algumas informações já parecem claras para os especialistas. A tecnologia modifica a expressão criativa das crianças, alterando sua forma de adquirir conhecimento, ou seja, sua cognição. Os recursos atuais (os novos meios digitais: a multimídia, a Internet, a telemática,...) trazem novas formas de ler, de escrever, e portanto, de agir e de pensar.
O simples uso de um editor de textos mostra como alguém pode registrar seu pensamento de forma diferente, o que gera no indivíduo uma maneira distinta de ler e interpretar o que escreve. A conseqüência? Um pensar diferente. Nesse sentido, computadores não apenas ajudam a aprender. Criam novas formas de aprendizagem.
Como se dá a interação com estas máquinas? Como procedem as crianças na sua relação com o computador, frente ao vídeo, desafiadas em sua curiosidade, diante de diversos botões e do teclado?
Operam sempre na busca, no tateamento. Experimentadores curiosos, transformam-se em pesquisadores que - face às diversas possibilidades, de resultados imprevisíveis - virtualizam suas experiências.
Navegam, errantes, nos hipertextos ou nas águas virtuais da Internet, despreocupados, perdendo-se nas buscas intermináveis, horas a fio. Surpreendem-se com a imprevisibilidade da máquina, que os desafia, aguçando sua curiosidade, tornando-os mais criativos, inventivos.
Em resumo, as máquinas de hoje possibilitam, entre outros aspectos:
Aprendizado por meio do fazer, do "colocar a mão na massa" - relação diferente com o objeto técnico, apoiada na experimentação, no ensaio e erro.
Lidar com a simulação e com a imprevisibilidade, o que faz do instrumento um material repleto de situações-problemas a serem desvendadas e outras a serem propostas pela própria criança.
Aprendizagem mais significativa, uma vez que os pequenos e os jovens estão extremamente motivados por essa ferramenta. Isso gera envolvimento afetivo e interesse, aspectos essenciais ao bom aprendizado.
Essas são questões já reconhecidas por especialistas e que interferem de maneira expressiva não somente no desenvolvimento do raciocínio lógico, mas na criatividade diante dos desafios. O segredo do sucesso, porém, parece residir no equilíbrio e no bom senso do uso da informática em sala de aula. Se é verdade que os computadores estão chegando, e de forma definitiva, também é verdadeiro que não podem roubar a cena. O mundo real sempre precisará prevalecer.
Nesse sentido, o papel dos pais e dos professores, como mediadores do processo, é fundamental. A criança é um ser social. Está inserida numa comunidade, composta por pais, irmãos, mestres e colegas. Pode e deve se utilizar dessas pessoas como fonte de idéias e intercâmbio de conhecimento.
Ao mesmo tempo, cabe aos adultos que a cercam, mostrar-lhes o mundo real em sua complexidade, a fim de que compreendam que toda ação virtual só fará sentido se estiver voltada para a transformação da realidade - uma transformação em que a tecnologia esteja a serviço da imaginação criativa. Afinal, como disse o grande Albert Einstein: "a imaginação é mais importante do que o conhecimento, pois o conhecimento tem limites, ao passo que a imaginação abarca o mundo todo".
* Norma Leite Brandão é pedagoga e educadora.