Domingo, 10 de novembro de 2024 |
Problemas todos temosDificuldades em casa: ansiedade, medo, vergonha de partilhar? Quando e por que abrir o jogo na escola? |
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Muito se tem falado sobre a necessidade da parceria família/escola nos tempos atuais. Sabe-se que uma sem a outra não consegue realizar sua missão de forma completa e harmônica. Nem sempre, porém, essa sintonia se realiza como o esperado. Em alguns casos a família, por receio, vergonha ou excesso de zelo em sua privacidade, omite da escola dados importantíssimos que poderiam auxiliar os educadores a compreender e atuar de forma mais eficaz junto às crianças.
Os indícios de que algo não caminha bem aparecem na sala de aula, no recreio, nas aulas complementares. Após algum tempo, a escola desconfia, chama os pais e... qual não é a surpresa? Pode ser um caso de separação, a morte de um parente, drogas, alcoolismo, enfim, diferentes fatores podem estar interferindo no cotidiano da criança e provocando alterações.
Partindo-se do princípio de que os pais escolheram com carinho e cuidado a instituição escolar, nada mais natural que se espere que os mesmos a enxerguem como uma confidente nos momentos difíceis. Isso, no entanto, em algumas situações não ocorre. Nem sempre se expor, diante de determinadas ocorrências familiares, é fácil. Pode haver um misto de sentimento de culpa ou mesmo a crença de que sozinhos consigam resolver tudo. Como se houvesse uma porta, um filtro que impedisse que determinadas situações ficassem claras, transparentes.
Nesses momentos, os pais deveriam, ainda que fosse difícil, pensar grande. E pensar grande significa ter em mente o bem-estar da criança ou do adolescente. Como esperar que professores e coordenadores possam atuar com presteza e consciência se lhes faltam dados preciosos? De que maneira formar uma verdadeira equipe que interfira no processo e auxilie seus alunos, se ela sente os reflexos, mas desconhece as causas?
Não é bem verdade que situações que envolvem dificuldades financeiras, drogas, divórcio ou, até mesmo, questões mais íntimas e delicadas como assédio sexual ou espancamento, se tornem necessariamente públicas, caso isso seja partilhado com uma coordenadora da escola de seu filho. Muito ao contrário. A função de uma coordenação é zelar pelo bem-estar da criança. Nesse sentido, ela é uma profissional que tem o dever de guardar alguns segredos e selecionar as informações que serão passadas aos professores. Ela é o elemento intermediário, o elo entre a família e a escola.
Em segundo lugar, muitas vezes nós, pais, na ilusão de querer resolver tudo solitariamente, esquecemo-nos de que o olhar de um elemento externo, de uma pessoa distanciada do problema possa ser de grande auxílio nesse instante tão difícil. O simples ato de desabafar e buscar conforto pode aliviar as dificuldades enfrentadas pela família.
No mundo em que vivemos, as dificuldades surgem de todos os lados. Sentimos os reflexos ou estamos imersos na violência, na falta de emprego, na fuga para o álcool e demais drogas. A questão não se resume a ter ou não problemas. A questão agora é de que forma os pais podem lidar com eles. Nesse sentido, não se iluda: enfrentar a dificuldade e abrir o coração pode fazer muito bem. É assumir que algo está fora dos eixos. É dizer aos profissionais que cuidam da criança que os pais esperam um olhar mais cuidadoso, uma atenção especial.
Professores não têm bola de cristal. Precisam sentir que a família neles confia. Determinadas situações, vividas em sala de aula, alteram-se profundamente quando há por parte dos profissionais uma intervenção mais cautelosa. Atitudes aparentemente banais tendem a auxiliar muito quando se vive um momento mais difícil.
Podem vir em forma de uma flexibilidade maior na data de entrega de tarefas, na maneira de se fazer anotações no caderno da criança, em forma de olhares ou conversas que aproximem professor e aluno ou simplesmente podem representar uma observação mais acurada por parte de todos. Não importa. Seja qual for o caminho, ele só pode ser tentado mesmo se os pais se despojarem do medo, da ansiedade e da insegurança. Se acreditarem que, de fato, a escola é parceira e que, com ela, se aprende, se buscam saídas.
Mais do que isso, essa é uma parceria que só pode acontecer se houver confiança e, principalmente, se a criança ou o adolescente em questão for o centro de tudo. Se a família, finalmente, compreender que, em seu benefício, não podem existir determinadas censuras, sob pena de escola e pais não conseguirem cumprir sua verdadeira missão.
* Norma Leite Brandão é pedagoga e educadora.
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