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Crianças especiais

Por Lucy Casolari *


Classes regulares aceitando alunos com necessidades especiais já são realidade em algumas escolas. Naturalmente, como em toda reformulação, existem dúvidas dos pais. Será positiva a convivência entre crianças com diferenças mais acentuadas?

Esse assunto tem sido matéria de jornais e revistas e trata da inclusão social de portadores de deficiências físicas e mentais. A proposta é oferecer educação de qualidade para todos, sem discriminação. Dessa forma, alunos especiais freqüentariam as mesmas escolas das demais crianças. O que está na base desse movimento mundial, responsável por uma grande transformação, é a valorização da diversidade. Assim sendo, é garantida a cada aluno a oportunidade de desenvolver ao máximo o seu potencial, num ambiente enriquecedor e estimulante.


Os especialistas ainda estão discutindo a melhor forma de viabilizar a inclusão social nas escolas. Ao lado de certezas surgem, também, dúvidas em virtude da enorme variação e especificidade das diversas deficiências. De todo modo, sem entrar propriamente nessa discussão, é interessante levantar alguns tópicos, pois a freqüência dessas situações deve aumentar.

O que esperar das escolas

Esse assunto entrou em pauta em 1994, quando a Unesco recomendou o fim da barreira entre as escolas especiais e as outras. Os educadores, reunidos em Salamanca, decidiram por garantir o direito de acesso a salas de aulas regulares a todas as crianças, independente de suas limitações. A intenção é possibilitar a integração de todos os indivíduos à comunidade.


Para acolher crianças com deficiências físicas, tais como dificuldades de locomoção, visão ou audição, houve necessidade de replanejar os espaços físicos, começando por rampas de acesso e banheiros adaptados que permitam a circulação em cadeira de rodas. Evidentemente, os profissionais devem ser preparados para lidar com a diversidade, o que não quer dizer que devam se transformar em especialistas em cada deficiência.


Existe ainda um movimento, que vem das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais, no sentido de integrar os portadores da síndrome de Down à sociedade. Muitos pais, seguindo as recomendações das Apaes, estão tirando seus filhos das escolas especiais e matriculando-os em outros colégios.


As creches municipais de São Paulo devem dar prioridade em 5% de suas vagas para crianças com necessidades especiais. Entretanto, muitos pais deixam de ocupar totalmente esses espaços, seja por desconhecimento, por achar que a creche não é lugar para seu filho ou, ainda, por temer a rejeição das outras crianças e famílias.

Benefícios e questões

Nas escolas que acolhem crianças especiais, tem sido percebido que o ambiente fica bastante alterado. A convivência entre alunos com diferenças visíveis desenvolve significativamente a tolerância e a solidariedade. Ocorre uma melhora na qualidade dos relacionamentos. Há, inclusive, relatos que mostram que a agressividade e a violência diminuem bastante.


Por outro lado, as crianças especiais, estimuladas pelos outros, alcançam progressos muito superiores aos que teriam em escolas especializadas, onde estariam protegidas desse contato e, portanto, segregadas. Dessa forma, ao participar das atividades regulares, espera-se que estejam preparadas para desempenhar a maior quantidade de tarefas do dia-a-dia.


Os educadores, diante de uma turma ainda mais heterogênea, passam a considerar e valorizar as diferenças e particularidades de cada aluno. Com isso, a própria avaliação se torna mais individualizada, deixando de estabelecer, apenas, uma contínua comparação entre os resultados obtidos.


Os pais das demais crianças têm contato e se interessam por questões que antes não os afetavam, pois não faziam parte de seu universo. Entretanto, alguns temem que haja uma queda no rendimento do grupo todo, o que provocaria atraso na programação e interferência negativa no desempenho acadêmico dos próprios filhos. A proposta da inclusão é que as crianças especiais se beneficiem do convívio embora, talvez, não alcancem a mesma produção das demais. Dessa forma o cronograma seria mantido, sem prejuízo para os outros alunos.


Como se vê, para administrar todas essas variáveis é necessário que a escola esteja preparada para lidar com as situações de conflito e tenha flexibilidade. Precisará rever conceitos ultrapassados, investir no professor e envolver toda a comunidade.


A educação de qualidade para todos é uma tarefa ambiciosa e vai exigir empenho e mobilização mas, sem dúvida, é um passo importante na construção de uma sociedade mais respeitosa e solidária. Cabe a todos, envolvidos nesse processo, a disponibilidade para se rever e se abrir garantindo que essa diversidade possa conviver produtivamente.


* Lucy Casolari é pedagoga e educadora


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