Sexta-feira, 26 de abril de 2024 |
Durante anos, grupos de Axé formados por um vocalista e bailarinas vestidas com pouquíssima roupa - e altas doses de sensualidade na coreografia - eram garantia de legiões de espectadores. De alguns meses para cá a coisa piorou, e muito: o Funk tomou conta dos meios de comunicação com letras de músicas absolutamente impróprias para crianças, vulgarizando o sexo e banalizando a relação afetiva entre homem e mulher.
Silvana Rabelo, psicanalista de São Paulo, diz que a atitude vigilante dos pais frente ao exagero mostrado na TV é o caminho correto para educar a criança e desenvolver seu senso crítico. "Erotização não é privilégio dos grupos de axé ou funk: está na vida dos pequenos, no relacionamento dos adultos e no que a sociedade prega", afirma.
É imitando os pais que os filhos aprendem a falar, a andar e a se comportar. Quando o universo deles se expande - por meio da escola, festas, televisão, música e amigos - os modelos de comportamento bons e ruins começam a interferir na educação que receberam.
"Quando são bem estruturados, eles aprendem a separar o joio do trigo", opina a dona-de-casa Andréia Teixeira, mãe de Felipe, de cinco anos, que desde cedo estimulou o filho a assistir aos programas infantis da TV Cultura, emissora educativa de São Paulo. A conseqüência é que o menino, ao contrário de seus amiguinhos, demonstra total desinteresse por tudo o que foge à programação inadequada à sua idade.
A sexualidade atinge a meninada desde cedo, mas o que deflagra a excitação muda de criança para criança. A construção da troca afetiva, que se traduz no beijo na boca, nas carícias mais íntimas, nas cenas de sexo a que a programação televisiva os expõe, deve ser cuidadosamente monitorada para que eles não recebam estímulos que não tenham condições de entender.
O conceito que os pequenos terão de seus futuros parceiros depende muito do que eles aprenderem desde bem cedo: se o menino pequeno vê seu modelo - o homem adulto - referir-se à mulher de forma agressiva e desrespeitosa, pensará, provavelmente, que essa é a forma correta de agir. A menina mal orientada, por sua vez, corre riscos de vir a se portar como as dançarinas que vê na televisão, assumindo posturas de mulher feita, utilizando o corpo para conquistar seus objetivos.
Os resultados da erotização precoce são desastrosos. Relacionamentos fracassados pela falta de respeito mútuo e pelo pouco cuidado com o afeto são apenas alguns deles. "Envolver a criança nos valores da família é a chave para uma boa estruturação moral e ética", diz a psicóloga Silvana Rabelo. "A maneira como a criança vê a sexualidade depende muito de como os pais se posicionam a respeito", completa.
Não há dúvida de que abandonar a criança em frente à TV é uma conduta condenável. Se os pais se derem ao trabalho de selecionar a programação, estarão demonstrando carinho e preocupação pelos filhos, ensinando a eles o que é bom e o que é ruim.
Quer dizer, então, que a responsabilidade é todinha dos pais? Não. A mídia também precisa assumir o seu papel, colaborando com uma programação educativa e de qualidade. Uma pesquisa solicitada pela Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, mostra que ninguém quer a volta da censura, mas sim a conscientização dos responsáveis pela programação televisiva, levando em conta o compromisso com a cultura e a formação dos indivíduos.
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