Quarta-feira, 08 de maio de 2024 |
Duas mães estacionam corretamente seus automóveis a uma certa distância da escola. Dirigem-se ao portão de saída e enquanto esperam os filhos, que estão na última série do ensino médio, conversam com ar despreocupado. Uma delas, com um certo orgulho, diz: "vim buscar meu filho porque preciso deixá-lo direto no cursinho. Ele está se preparando para prestar medicina. Coitado, vive estressado, mas precisa estudar muito porque a concorrência é enorme!"
A outra mãe não deixa por menos: "pois é, meu filho também está fazendo cursinho. Mas ainda não se decidiu por nenhuma profissão, apesar de eu e meu marido já termos dito a ele que não nos importamos com a escolha que ele fizer. Só queremos que ele seja feliz!"
Esta cena, em princípio, é absolutamente normal. Trata de pais e mães interessados no futuro de seus filhos e, portanto, colaborando com o crescimento deles dentro de uma proposta de muito amor e dedicação. Acontece que, para o jovem na faixa dos 17 anos, tanto as palavras de uma como as da outra mãe, podem soar de forma complicada: ele pode receber essa manifestação de afeto como uma mensagem para que tome, rápido, a decisão que definirá, teoricamente, todo o seu futuro. E isso é pesado demais para quem sempre viveu em um ambiente protegido: a família e a escola, onde todos se conhecem e torcem para que os adolescentes um dia se transformem em adultos vitoriosos.
Fazer "de tudo" para que o filho seja feliz soa para ele, na verdade, como uma "obrigação" de ser feliz. Portanto, o jovem se sente impedido de errar na escolha e, pior, vê-se obrigado a passar na primeira tentativa de vestibular. E se ele não passar? Como vai poder falar para os pais que a culpa não foi dele? Como fazê-los acreditar que ele deu o melhor de si? E como pedir desculpas pelo dinheiro gasto com o cursinho, com as inscrições para as provas? E a mãe que se esforçou tanto, que poupou o filho de ajudar nas tarefas da casa, que o transportou de um lado para outro, enfim... como se livrar da culpa?
Ainda que o adolescente se sinta pressionado a escolher uma profissão, as angústias da fase final do ensino médio são bem mais complexas. Envolvem o desabrochar para a vida adulta. E, mais que nunca, ele precisa da cooperação dos pais, pois todos da família o enxergam sob uma ótica nova, diferente. Seu desenvolvimento físico, psíquico, intelectual e emocional é visível e muitas são as mudanças que ocorrem ao mesmo tempo.
É fundamental que os pais compreendam, por exemplo, que aceitar o fato de que esta fase é repleta de contradições é fundamental nesse processo de amadurecimento. E é necessário, sim, vivenciá-las sem atribuir responsabilidades e culpas. É muito comum que nós, pais, julguemos nosso filho já "bem grandinho" para deixar a toalha molhada sobre a cama e, ao mesmo tempo, que ainda o consideremos "muito novo" para ficar nas baladas até o amanhecer.
Ou que ele é "muito novo" para trazer a namorada para dormir em casa mas "bem grandinho" para compreender, sem se irritar, que precisa diminuir o volume do som que incomoda a vizinhança inteira. Isso também não é contraditório? Então, vamos assumir perante nossos filhos que é assim mesmo que se passa para a vida adulta: treinando fazer algumas coisas, demorando mais para começar a ter outros hábitos ou atitudes.
Se um dia ele se mostra inclinado a fazer engenharia e, no dia seguinte, diz que quer mesmo é fazer direito, relaxe e OUÇA! Ou -"Deus o livre!" - se de repente ele resolve que não quer mais estudar e espera que os pais financiem a compra de uma van para começar seu próprio negócio de venda de cachorros-quentes, vá com calma! Não cobre coerência de seu filho! Ele precisa testar informações e limites. Explique que é normal ser incoerente, mas ajude-o a fazer uma escolha.
Só paciência e tolerância não bastam para os pais. É preciso treinar o diálogo. O uso correto e literal das palavras, durante essa fase, é fundamental: fale e ouça cuidadosamente. Faça uma volta ao passado e lembre-se de quando você ensinava seu filhinho a falar corretamente. Só que, agora, como ele está na faixa dos 16,17 anos, é preciso antes de tudo ouvi-lo em suas necessidades.
Ouvir os jovens com atenção nos torna diferentes, melhores, mais abertos ao diálogo. Isso nos permite entrar na sintonia do contato afetivo com nossos filhos. Refletir sobre cada palavra pronunciada e buscar a certeza de que tudo que está sendo comunicado está, de fato, sendo recebido da forma correta ajudará a reforçar os laços familiares, ainda que o jovem esteja se preparando para virar adulto e ir embora. Aí sim, não é preciso se preocupar, pois ele se sentirá amado e seguro para caminhar com seus próprios passos.
* Lucila Camargo é jornalista, psicodramatista e orientadora educacional.
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