Terça, 19 de março de 2024
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Viemos adorá-lo

Por Padre Héctor Velarde *


Pedimos ao Padre Héctor Velarde, do Movimento de Vida Cristã, que nos falasse um pouco sobre o verdadeiro significado das festas de Natal. Clique aqui e confira!

Aproxima-se a celebração do Natal e nos preparamos para acolher o Senhor Jesus em nossos corações. Todos reconhecemos a importância do Natal, não só como uma ocasião para nos encontrarmos com familiares, para dar e receber presentes, mas sim para celebrar o nascimento do Senhor Jesus. Com palavras singelas expressa-se uma realidade cheia de mistério: Deus se faz homem. É um anúncio contente e pleno de esperança. «O anjo lhes disse: "Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi"» . Entretanto, chegamos a estas datas talvez com muitas preocupações, atividades e planos que nos impedem de refletir e de nos dispormos adequadamente. Como nos preparamos para acolher o Senhor Jesus? Temos que parar um pouco para refletir, pois «para o cristão que peregrina na terra nada deve obscurecer o sentido profundo do mistério que celebramos» .

Há mais de dois mil anos viviam uma experiência similar um singular grupo de sábios que desde o oriente procuravam o «Rei dos judeus» . Atentos aos sinais, tinham empreendido um longo percurso, não isento de perigos, com uma meta clara: «Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo» . O próprio caminho era ocasião de preparação para aquele encontro decisivo, e certamente teriam refletido e aprofundado na melhor maneira de apresentar-se diante de um menino recém-nascido a quem reconheciam como soberano.

Percorrer o caminho...

O itinerário dos Reis Magos, como foram chamados pela tradição, ilumina-nos nessa preparação interior que devemos realizar para nos encontrar com Deus mesmo que se fez homem. Alguns estudiosos assinalaram que os magos poderiam ser sábios ou governantes de terras no oriente. Não teriam sido poucas suas preocupações e responsabilidades. Estas, entretanto, não lhes tinham impedido de ver aquela estrela que assinalava um acontecimento incomum. Reverentes diante dos sinais dos tempos interpretaram corretamente o sentido daquele peculiar fenômeno. É um primeiro momento chave, que exige em meio a tantas distrações, que em nosso tempo se multiplicam pelo ritmo frenético da vida, um pouco de silêncio e reverência diante da realidade.

Em seguida, puseram-se em marcha. Preparar tão longa viajem significava resolver uma série de obstáculos, superar adversidades, até separar-se dos amigos e seres queridos. Nunca faltam as dificuldades quando a alma sedenta sai em busca daquele que é a água viva . Algumas destas serão colocadas pelo mundo em que vivemos, hoje tão afastado de Deus, ou por nosso próprio homem velho, acostumado a uma vida cheia de seguranças. Outras serão pela misteriosa ação do Tentador que nunca é preguiçoso para tentar nos separar do Senhor e nos desviar do caminho 6. Vencendo estas dificuldades, os sábios peregrinos, ao longo do caminho, tiveram que se despojar de tudo aquilo que dificultava o avanço, fazendo-se mais livres para continuar com decisão e alegria o caminho para o encontro com Deus.

...para adorá-lo

Algum tempo atrás, ao encontrar-se com milhares de jovens em Colônia, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Bento XVI recordava o testemunho destes sábios do oriente e convidava a percorrer o «caminho interior da adoração» . Como os Reis Magos, nós podemos empreender essa peregrinação interior de preparação para o encontro com Cristo.

O que é exatamente a adoração? No relato bíblico se utiliza a palavra grega «proskynesis». Etimologicamente este vocábulo significa: beijo minha mão (Kyneo) e a estendo para aquele (prós) a quem quero honrar. Implicava aproximar-se e prostrar-se perante uma pessoa, levando a mão aos lábios e em seguida dirigi-la para tal pessoa em gesto de beijar os pés ou uma franja de vestido. Para os judeus, era uma homenagem que somente se fazia à divindade, com uma conotação de profunda honra e submissão a Deus. Implica, como recordava o Papa, não «considerar-se absolutamente autônomos, mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem, para, desta forma, nos tornarmos nós próprios verdadeiros e bons» .

Este sentido de submissão, muito presente na mentalidade oriental, fica enriquecido pelo cristianismo, como se expressa na palavra adoração, mas desta vez em sua acepção latina. A palavra latina para adoração é «ad-oratio», e faz alusão ao beijo, ao abraço, ao contato, e nos remete ao amor. Para o cristão, a adoração já não é uma mera submissão, pois no encontro com Deus e na experiência de seu amor infinito esta «submissão» se despoja de qualquer conotação de escravidão para fazer-se liberdade plena. É no serviço a Deus, no cumprimento de seu Plano de Amor, que a pessoa se faz autenticamente livre.

O encontro com o Senhor Jesus

Quando os Reis Magos chegaram ao Presépio, se encontraram com Santa Maria, São José, e um recém-nascido, em meio a uma grande pobreza. Podemos imaginar seu assombro. Não deixaram por isso de reconhecer naquele menino a meta final de sua busca, e o adoraram. A fé lhes permitiu reconhecer naquele pequeno o Rei que procuravam. Não tivemos alguma vez a experiência, talvez no estudo ou ao rezar, de que Deus é muito diferente do que esperávamos? Tê-lO-íamos reconhecido envolto em fraldas na humildade de um estábulo, ou quiçá, mais difícil ainda, pendurado de uma cruz coberto de sangue e feridas?

Que imagem temos de Deus? Com aquele olhar interior que nos dá a fé, conhecemo-lO, e não encontramos um Deus feito à medida humana, mas sim um Deus que por amor se fez homem para elevá-lo até o encontro pleno. Ao ficar de joelhos para entregar seus dons, os Reis Magos ficaram à altura do olhar de Jesus. Assim, ao inclinar-se, eram ao mesmo tempo elevados à altura dos olhos de Deus, e percebiam nesse olhar terno e transparente de um menino a amizade de Deus , que se fazia homem para dar sua vida pelos homens ; que se encarnava para nos manifestar que Deus é, acima de tudo, amor . O encontro com Jesus, a adoração, não nos pode deixar impassíveis. É um encontro que nos transforma se formos dóceis à graça derramada, e nos lança para um encontro cada vez mais pleno e, por sua vez, para o anúncio evangelizador. É um convite à conversão, à mudança. Os Reis Magos retornaram a seu país «por outro caminho» . Tal mudança de rota nos recorda a conversão. Um caminho distinto no qual já não somos os mesmos, e que por isso não é tão somente um retorno, mas sim um contínuo avançar para um encontro cada vez mais pleno. O fruto da adoração não é algo que fica em nós, deve-se comunicar. «A Igreja - recordava o Papa João Paulo II - precisa de testemunhas autênticas para a nova evangelização: homens e mulheres cuja vida seja transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros» . Esse encontro com o Senhor, que é união libertadora, vive-se de uma maneira privilegiada na Eucaristia. Na Eucaristia a adoração chega a ser união com Deus. Deus não somente está frente a nós, mas sim «está dentro de nós, e nós estamos nEle. A sua dinâmica penetra-nos e de nós deseja propagar-se aos outros e difundir-se em todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo» .

E na vida cotidiana?

A adoração é então um tipo de oração em que se reconhece e experimenta a grandeza de Deus. Nada mais longe de uma atitude estática ou passiva. Na adoração, dizia Romano Guardini, «Precisamos de nos recolher e, no recolhimento, tornar presente a grandeza de Deus e inclinar-nos com respeito, na liberdade do nosso coração. Então desabrocha dentro de nós a verdade, a verdade da vida. As relações da existência ordenam-se, e retificam-se as dimensões. Esta verdade ser-nos-á benéfica e restabelecerá a ordem naquelas coisas que os erros e as ilusões da vida deslocaram. Aí encontraremos a saúde do espírito, e seremos capazes de recomeçar» . A oração de adoração é fundamental para que toda a nossa realidade recobre seu sentido autêntico. Trata-se, além disso, de uma oração sempre nutrida de esperança. A adoração nos recorda que não estamos diante de um Deus longínquo, indiferente ou a quem o homem não tem acesso. Justamente o contrário. Adorar a Deus significa tomar consciência e experimentar o grande amor que Ele nos tem, a ponto de, em Jesus, nos elevar à categoria de filhos , e que nos convidou a viver no seio de sua Comunhão de Amor. Ao nos ajoelharmos, como os Reis Magos, perante Deus, colocar-nos-emos à altura de seus olhos, e veremos como toda a realidade se ilumina maravilhosamente a partir dessa perspectiva divina. Esse é o grande horizonte, libertador e reconciliador, que se desprende como fruto precioso da adoração e que ilumina a vida cotidiana do homem. Há muitíssimas maneiras de viver esse "viemos adorá-lo" em nossa vida diária. Neste tempo, a preparação para o nascimento do Senhor é uma maneira. Mas sempre teremos perto uma igreja para visitar o Senhor presente na Eucaristia, seja na Missa ou na adoração Eucarística. Também podemos ter alguma imagem ou devoção que nos ajude a percorrer interiormente esse caminho. Além disso, em qualquer momento do dia, não importa onde nos encontremos, podemos elevar uma oração de adoração que nos renova na consciência da reta e justa ordem das coisas, e que por isso nutre de uma profunda esperança e alegria nosso caminhar, e nos leva a procurar viver com maior intensidade o Plano de Deus em nossas vidas.

1 Lc 2,10-11
2 Luis Fernando Figari, Navidad y Jubileo, FE, Lima 2000, p. 195.
3 Mt 2,1ss
4 Mt 2,2
5 Jo 4,10ss
6 1Pd 5,8
7 S.S. Bento XVI, Homilia na Missa da Jornada Mundial da Juventude, 21/08/05.
8 Lug. cit.
9 Jo 15,15
10 Jo 15,13
11 1Jo 4,8
12 Mt 2,12
13 S.S. João Paulo II, Mensagem para a XX Jornada Mundial da Juventude. 06/08/2004.
14 S.S. Bento XVI, Homilia na Missa da Jornada Mundial da Juventude, 21/08/05
15 Romano Guardini, Introdução a oração, p.71.
16 Rm 8,16-17


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