Terça, 19 de março de 2024 |
Respiração oral afeta aprendizadoPor Kátia A. Kuhn Chedid ; Renata C. Di Francesco ; Paula Andreya de Souza Junqueira * Está comprovado: crianças que respiram pela boca podem apresentar uma série de problemas que comprometem seu desempenho na escola. |
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Cerca de 40 a 60% das crianças apresentarão problemas em algum momento do seu aprendizado formal - e as razões desse insucesso são várias. Falhas no processamento e na integração da informação visual e auditiva são fatores importantes. Para uma parcela dessas crianças (10% a 40%), as causas são motivacionais, tais como: desinteresse, hiperatividade, negativismo, pedagogia e programas inadequados, avaliações subvalorativas, atitudes negligentes.
Haveria ainda um grupo variável com problemas de aprendizagem por desordens psiquiátricas, por distúrbios de conduta e desajustamentos sociais e problemas orgânicos. Fatores como problemas neurológicos ou falhas do desenvolvimento psicomotor são extremamente raros.
Recentemente, tem-se observado que crianças que respiram pela boca têm uma maior tendência a dificuldades de aprendizado. Observa-se nestas crianças problemas intelectuais, tais como dificuldade de memorização de novos eventos, alterações da capacidade cognitiva e conseqüentemente, problemas com aprendizado.
Ao analisarmos qualquer criança, devemos tentar identificar as interferências que independem de sua vontade e do empenho, tanto da escola quanto da família, para só então verificar maneiras de auxiliá-la. Dentre estas interferências encontramos a respiração oral. A fim de comprovar este dado e analisar sua influência na aquisição da linguagem escrita, realizamos uma pesquisa com 292 crianças em fase de alfabetização em estabelecimento de ensino particular em São Paulo.
O objetivo era comparar a prevalência de crianças com distúrbios respiratórios entre os que necessitavam de um reforço escolar e os que seguiam o aprendizado normal - excluindo-se outros problemas que conhecidamente interferem no processo de aprendizagem, tais como problemas visuais, auditivos e emocionais.
Foi possível observar, em nossa pesquisa, que o grupo de crianças encaminhado ao reforço escolar apresentava um número estatisticamente maior de crianças com respiração oral.
Talvez o que seja avaliado como distúrbio de linguagem escrita, deficiência, fracasso, dificuldade ou problema, deva ser encarado somente como uma interferência de fatores capazes de retardar a aquisição desta linguagem. Fatores como a coordenação visual-motora, memória-visual e sintaxe, entre outros, quando diagnosticados e tratados, favorecem a retomada deste processo de aquisição da linguagem escrita.
A respiração oral é um dos sintomas mais freqüentes nas crianças em fase de alfabetização, e deve ser considerada como uma alternativa patológica frente à instalação de uma obstrução nasal. Geralmente, está associada ao desconforto respiratório do sono, doença que acomete em cerca de 11-12% da população pediátrica.
As causas mais comuns dos processos de obstrução das vias aéreas são a rinite alérgica e o aumento das amígdalas e adenóide - este último ocorre principalmente na faixa etária que coincide com a fase de alfabetização. A síndrome do desconforto respiratório da criança, em casos mais graves, evolui para a apnéia do sono, ou seja, parada respiratória durante o sono.
O professor, o orientador educacional e os pais devem estar atentos para reconhecer as crianças com problemas respiratórios. Estas crianças respiram sempre pela boca. Têm um ar cansado e um olhar perdido. Geralmente são crianças desatentas e até hiperativas. Na conversa entre a família e a escola deve-se levantar problemas do sono, roncos, paradas respiratórias ou engasgos. O sono é geralmente agitado e não raramente as crianças urinam na cama (enurese) ou nota-se a persistência do uso de fraldas noturnas até uma idade mais avançada (4 ou 5 anos).
É durante o sono que se exacerba o desconforto respiratório na criança. Este torna-se extremamente conturbado devido à sensação de sufocamento e baixa do oxigênio sanguíneo resultante das paradas respiratórias. O baixo oxigênio resulta em problemas de memória e problemas intelectuais, tais como dificuldade de memorização de novos eventos, alterações da capacidade cognitiva e conseqüentemente, problemas com aprendizado.
Em geral são crianças magras, abaixo dos percentils de peso e altura para a idade, embora esta não seja uma regra. Também notamos, em nossa pesquisa, uma forte correlação entre o distúrbio respiratório e os problemas disciplinares, ou seja, as crianças costumam ser irrequietas, agitadas e agressivas. São freqüentes problemas de comportamento, tais como hiperatividade, distúrbios de atenção, comportamento anti-social e agressividade e até um baixo rendimento escolar.
Para crianças que estão iniciando suas atividades escolares, estes problemas causados pela respiração oral podem ser extremamente danosos, pois é neste momento da vida que os estímulos para o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo, da linguagem, da expressão são mais importantes, afetando todo o desenvolvimento da criança.
Os professores e profissionais da educação devem estar sempre atentos aos problemas respiratórios das crianças e sua relação com os problemas do sono, para que possam orientar os pais na busca de um diagnóstico e tratamento específicos. O vínculo com o médico para contribuir no diagnóstico da criança é fundamental, visando melhorar as defasagens de aprendizado dos escolares.
* Kátia A. Kuhn Chedid ; Renata C. Di Francesco ; Paula Andreya de Souza Junqueira
Kátia A. K. Chedid é orientadora educacional, formada em pedagogia pela PUC-SP e especializada em psicopedagoga
Renata C. Di Francesco é médica otorrinolaringologista, doutora em medicina pela Faculdade de Medicina da USP
Paula A. de S. Junqueira é fonoaudióloga, mestre em fisiopatologia experimental pela Faculdade de Medicina da USP.
Contatos:
Kátia A.K. Chedid - kakchedid@uol.com.br , www.katiachedid.com.br/
Renata C. Di Francesco - difran@attglobal.net
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