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Real ou virtual, biblioteca é fundamental
Por Norma Leite Brandão
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Qualquer uma delas tem seu lugar nos tempos atuais, dependendo do objetivo e da necessidade. O importante é que esteja presente na vida de crianças e jovens.
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Atualmente, ao se falar na importância da leitura na vida dos filhos, o que se vê nas famílias é a busca por livrarias e, muitas vezes, o consumo indiscriminado de livros. Sim, os pequenos e adolescentes precisam mesmo formar sua pequena biblioteca doméstica. Isso é fundamental para o desenvolvimento do prazer e para a busca do conhecimento.
Seria importante, no entanto, que se refletisse sobre outra forma de coleta de material para leitura: o uso mais sistemático das bibliotecas, virtuais ou reais.
Ambas têm seu lugar e desempenham um papel, muitas vezes, insubstituível.
A aura, o ritual
Esteja certo: livraria alguma consegue colocar ao alcance da criança o acervo e o "espírito" de busca que uma boa biblioteca oferece, em seu espaço físico. Falar em "espírito" de busca é falar naquela aura mágica que envolve o cheiro dos livros, as obras catalogadas, os prazos de retirada e devolução, o silêncio que permeia esse ambiente.
Sim, porque entrar nesse espaço, é uma ação que contempla um verdadeiro ritual. Nós nos sentimos pequenos, diante de tanta coisa produzida pela humanidade, não é mesmo? Nesse sentido, o acervo de uma biblioteca é como um santuário em que o mundo é descortinado para aqueles que têm curiosidade para buscar, paciência para pesquisar e olhos para mergulhar no passado.
Os tempos modernos
Bem, mas você, com o espírito prático que possui pode argumentar: mas, com a vida corrida que temos, a biblioteca real ainda tem seu lugar mesmo? Não é mais fácil acessarmos o que quisermos pela Internet? O mundo não caminha nesse sentido?
Caminha sim. Provavelmente, a cada dia, mais e mais obras serão disponibilizadas pela rede. Mas não é disso que estamos falando aqui. Se nosso assunto é a formação dos filhos, se queremos que eles desenvolvam pré-requisitos básicos, a visita às bibliotecas reais é uma parte dessa tarefa, complementada por livrarias e pelo material online disponível.
Ensinar os filhos a freqüentar uma biblioteca - da escola ou do bairro - é tocar em alguns aspectos fundamentais para seu desenvolvimento. O primeiro deles aponta para a compreensão de que nem todo conhecimento precisa ser comprado. A produção cultural do homem está disponível a qualquer um que dela necessite.
Conseqüentemente, o segundo aspecto reside no fato de fazer com que a criança selecione o que deseja efetivamente comprar e o que pode, simplesmente, "emprestar" de um acervo. Esses dois itens são essenciais num mundo que só aponta para o consumo e que não nos dá tempo de refletir, usando o discernimento e a crítica. Em tempos em que o dinheiro está curto, vale mostrar-lhes caminhos alternativos e mais inteligentes.
Como se não bastassem essas razões, a visita sistemática a uma boa biblioteca proporciona aos filhos elementos que produzem autonomia: trabalharão com escolhas, com prazos de retirada e de entrega, responsabilizando-se por eles. Lembre-se, trabalhar com prazos é sistematizar a leitura, é obrigá-los, de certa forma, a obedecer a um tempo, em casa, pré-determinado, para o cumprimento dessa tarefa. O mais interessante disso tudo é que esse tempo não será estabelecido por você, mas pela própria biblioteca. Isso muda tudo.
Mas, talvez, o maior benefício mesmo seja descortinar, concretamente, a quem amamos a imensidão dos saberes produzidos pelo homem, ao longo de tantos séculos.
* Norma Leite Brandão é pedagoga e educadora.