Quinta-feira, 18 de abril de 2024 |
Divórcio faz mal a nossos filhos ou nãoPor Prof. Dr. Táki Athanássios Cordás * Ter pais separados não é tragédia. Pior é submeter seus filhos a um clima de guerra, sem amor nem diálogo. |
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Estatísticas de vários países apontam para o fato de que um em cada dois casamentos contraídos hoje terminarão em divórcio. Não existem, até o momento, dados brasileiros, mas imagina-se que estamos próximos disso. Relativamente incomuns até os anos 50, o número de divórcios começou a crescer nos anos 60 e principalmente a partir da década de 70. Há várias explicações sobre esse fenômeno, mas parece claro que as pessoas passaram a pensar mais na própria felicidade e realização afetiva e menos nas regras sociais. Homens e mulheres estão mais abertos a questionar as estruturas sociais e religiosas que exigiam casamento eterno, e as razões anteriormente aceitas para a separação, como crueldade, violência, adultério, não são mais necessárias: basta que os casais percebam que não existe mais amor suficiente para mantê-los juntos.
Entre as diferentes preocupações que psicólogos e psiquiatras têm sobre esse assunto estão a saúde mental e o bem-estar psicológico de filhos de pais separados. De fato, problemas dessa natureza ocorrem em aproximadamente 30 a 40% das crianças, três vezes mais do que acontece quando os pais que vivem juntos.
Uma análise superficial poderia indicar que a separação em si é um mal para os filhos. Mas as coisas não são tão simples assim. Vários estudos têm demonstrado que crianças que presenciam uma relação conflituosa entre seus pais, seja por um casamento silencioso, sem diálogo, ou com brigas e agressões constantes, têm mais problemas de ajustamento do que os filhos de pais separados. Sendo assim, manter um casamento falido por causa dos filhos pode implicar conseqüências piores do que uma separação.
Certos fatores influenciam a ocorrência de questões complicadas na vida das crianças cujos pais se separaram. Conheça alguns deles:
Embora não existam receitas pré-fabricadas e cada família deva buscar sua forma de lidar com a separação, algumas questões práticas merecem ser esclarecidas.
É possível obrigar o pai a estar presente quando ele não quer?
Insistir para que um pai veja o filho sem que ele o deseje é inútil e poderá levá-lo a afastar-se ainda mais ou adotar uma presença exclusivamente formal. É preciso que ambos - pai e mãe - compreendam que a criança não será a única beneficiada com esse contato. Manter o pai informado sobre suas atividades e possíveis dificuldades, por meio de fotos, cópias do boletim, festas, reuniões da escola, facilita a proximidade entre eles.
É possível eleger um tio, avô ou outro homem como figura paterna?
Quando a ausência do pai é inevitável, muitas vezes as mães até conseguem ser "pai e mãe" ao mesmo tempo, mas isso não é suficiente, além de sobrecarregá-las. O contato com pessoas do sexo masculino (avós, tios, amigos da família) que possam desenvolver uma relação carinhosa e de confiança com a criança pode oferecer modelos de afeto importantes, suprindo, em parte, a ausência do pai e fazendo com que a mãe se sinta mais apoiada.
Para compensar a carência do pai ou da mãe deve-se deixar a criança fazer de tudo?
Essa atitude pode ser uma armadilha para todos. O pai - ou a mãe - que se transforma na fonte da resposta positiva para todos os desejos, da liberdade de deixar fazer o que o outro proibiu rapidamente ficará desacreditado. O ideal é que os pais conversem a sós - longe da criança - e estabeleçam regras comuns. Afinal, os papéis de pai e mãe não se perdem numa separação, e, quanto mais coerentes eles forem, melhor o filho reconhecerá a manutenção e estabilidade desses papéis. Lembre-se de que a palavra "disciplina" deve ter o sentido de educar, instruir, e não servir como um exercício de força e agressividade contra o outro.
Ouvir os filhos e ser capaz de perceber suas necessidades é fundamental. Crianças também aprendem por imitação. Tendem a repetir o comportamento dos adultos e percebem rapidamente como lidamos com nossos próprios conflitos, responsabilidades e relações. Por isso, preservar o respeito é fundamental: pelo ex-marido, pela ex-mulher e pelos filhos individualmente. Eles são pessoas em formação, muitas vezes diferentes dos pais e, portanto, incapazes de suprir suas expectativas.
Além da liberdade excessiva, fuja de atitudes inadequadas à adaptação ao divórcio:
Depois do divórcio, sair com outras pessoas e ter novos namorados é legítimo e natural. Afinal, a vida pode ser bela! Todos têm o direito de recomeçar, entretanto é preciso delicadeza no trato com os filhos, ainda abalados pela separação. A obrigação dos pais é atravessar esse momento com tranqüilidade e equilíbrio, evitando passar por cima das dificuldades das crianças, também legítimas e naturais.
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