Quinta-feira, 28 de março de 2024 |
Educação musical começa no berçoPor Carla Oliveira * Eles não sabem o que é um saxofone ou uma clave de sol. Mas, aos três anos de idade, já estão aprendendo a ouvir e a fazer música. |
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Toda criança adora música! E, intuitivamente, os pais já proporcionam seu contato com a música desde o nascimento, através de discos, histórias cantadas, instrumentos sonoros como chocalhos ou xilofones e até mesmo canções de ninar. A música está sempre ao redor da criança, mesmo que ela não se dê conta disso. A musicalização, isto é, a educação musical na infância busca a vivência musical de forma consciente.
Em outras palavras, isso significa tornar a criança sensível ao fenômeno musical, transformando-a em um indivíduo que sabe ouvir, criar e apreciar a música - o que facilitará, no futuro, a aquisição do conhecimento musical e o aprendizado de um instrumento. Mas, mesmo que seu filho nunca venha a ser um guitarrista ou um baterista, as habilidades desenvolvidas através da musicalização serão muito valiosas para a sua formação em geral.
A musicalização proporciona o desenvolvimento do sentido estético, da manifestação artística e expressiva, da memória, da concentração, da coordenação motora, da criatividade, do raciocínio, da intuição e da sensibilidade. Apesar disso, educadores musicais ressaltam que o ensino de música na infância não deve ser realizado apenas com o objetivo de desenvolver habilidades. "O interesse maior tem que ser pela música em si", afirma a pianista Teca de Alencar Brito, que trabalha com musicalização há mais de 30 anos em sua escola em São Paulo - a Teca Escola Oficina de Música.
Na Teca Escola Oficina de Música, a criança começa a ter aulas com três anos. Dos três aos seis anos, as aulas são em grupo, enfocando a exploração da música através de jogos e brincadeiras. A partir dos seis anos, a criança pode optar por aprender um instrumento, e então recebe aulas particulares para se especializar.
"É um processo contínuo, que começa de forma abrangente. Em primeiro lugar, a criança entra em contato com inúmeras possibilidades: cantar, produzir instrumentos, brincar. A música é uma forma de expressão, é um gesto, e elas aprendem a explorar esse gesto", explica Teca. A pianista conta que hoje dia existe uma preocupação maior em fazer a criança conviver com a música de forma lúdica, e não mais como um dever ou obrigação.
"Mas, alguns métodos ainda são muito caretas, os alunos têm que decorar e ensaiar somente aquilo que o professor quer e têm que seguir uma apostila. A música tem que ser ensinada de um jeito legal, a pessoa tem que sentir-se capaz de criar, não só reproduzir a música, mas compor, inventar, improvisar. A música não vem pronta, você a constrói", ressalta Teca.
Segundo a pianista, na maioria das escolas de educação infantil, a situação também é ruim. A musicalização fica restrita a cantar musiquinhas na hora do recreio ou ensaiar uma música para apresentar na festa de fim de ano. "Isso é apenas condicionamento, a criança não aprender nada", defende. Para ser uma atividade prazerosa e fonte de auto-estima, a criança deve sentir à vontade para interagir com a música e não apenas reproduzi-la mecanicamente.
Uma das primeiras atividades que Teca faz com os pequenos é a brincadeira do "Sinal verde, sinal vermelho". De acordo com a pianista, essa brincadeira ajuda a perceber o contraste entre som e silêncio e explora formas de tocar um instrumento. Cada criança escolhe um instrumento e decide que tipo de transporte ela quer ser - pode ser um avião, um trem, um carro.
Quando a professora fizer um determinado som, combinado anteriormente, as crianças devem andar pela sala e tocar seu instrumento: é o sinal verde. Quando ela fizer um outro som, elas devem parar de andar, de falar e de tocar: é o sinal vermelho. "No começo é um caos, todo mundo toca alto e faz muito barulho. Depois eles percebem que têm que tocar com menos intensidade para poder ouvir o som dos sinais e também começam a prestar atenção no que os outros estão tocando", conta Teca.
Depois da bagunça inicial começa também a surgir um tom mais elaborado ou um ritmo interessante, pois a criança percebe que se tocar de certa maneira, ela pode imitar o som de uma sirene, por exemplo, e começa a reproduzir esse som várias vezes. "Essa conquista é muito importante", ressalta Teca. Além disso, com essa brincadeira a criança fica na expectativa de ouvir o sinal e aprende a se concentrar e a apurar o ouvido.
Se você é professor e pretender iniciar o ensino de música em sua turma, confira abaixo algumas sugestões de livros, sites, vídeos e CDs interessantes para se informar sobre o assunto e usar nas aulas. E não deixe de ler também o documento de música do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, disponível do site do Ministério da Educação e Cultura (www.mec.gov.br)
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