Domingo, 17 de janeiro de 2021 | ![]() |
Ser sempre o melhor em tudo, além de impossível, é um peso insuportável. As altas expectativas e conseqüentes exigências dos pais podem transformar a convivência da família em algo próximo da guerra, onde o único resultado aceito é a vitória.
Nas competições esportivas escolares é comum a presença de pais que, de tanta vontade de ver o filho subindo ao pódio, se agitam desmesuradamente, criam casos com o juiz da partida ou se desentendem com outros pais. Claro que ninguém entra num jogo para perder, mas daí a dividir o mundo entre vencedores e perdedores há uma grande diferença.
Também não adianta dizer simplesmente "o que vale é competir", como forma de mascarar a frustração por uma eventual derrota. Em qualquer competição há apenas um vitorioso que merece ser celebrado, o que não significa que todos os outros devam ser execrados.
Mais importante do que ganhar, de qualquer jeito e a todo custo, é a certeza de ter feito o melhor possível, o seu máximo.
Ao nascer uma criança, os pais tecem fantasias sobre o futuro dela, algumas baseadas em seu próprio passado de realizações e outras na percepção do mundo à sua volta, cada vez mais exigente e competitivo.
Lembrar que são apenas crianças em desenvolvimento pode dar a medida do que realmente esperar em termos de perdas e ganhos. Nem sempre o melhor aluno na escola é o que vai ter mais sucesso na carreira. Assistimos, entretanto, a exigências pesadas quanto a resultados acadêmicos, sem levar em conta as habilidades e inclinações pessoais da criança.
Dessa forma, prevalece a idéia de que o filho precisa sempre ganhar, seja a olimpíada de matemática, o concurso de redações, o prêmio de artes ou a seleção para a melhor equipe de futebol.
Alguns pais chegam a exigir o resultado máximo com o argumento de que "afinal meu filho só estuda". E essa cobrança, veja bem, muitas vezes é voltada para crianças e jovens detentores de ótimo desempenho escolar.
Aí é que está o absurdo: por trás dessas atitudes paternas está a preocupação com os que estão à frente do filho. Se a nota alcançada, embora boa, é a sétima do grupo significa que há seis outros melhores do que ele que, ao menos teoricamente, estariam mais bem preparados para o mercado de trabalho.
Dessa maneira, está sendo estimulado um processo que, além de ser um verdadeiro fardo para a criança, sugere a supremacia de uns em detrimento de outros, ou seja a concretização de "ser o bom" no sentido de estar acima dos outros. Em outras palavras, pode-se dizer que estão sendo incentivados, muitas vezes sem perceber, a arrogância e o sentido deturpado do poder.
Respeitar as tendências e facilidades de seu filho pode ser um bom começo, da mesma forma que ensiná-lo a valorizar as habilidades dos outros, o que abre espaço para que cada um possa se destacar em alguma atividade.
Procure ajudá-lo a superar suas dificuldades, cultivando a persistência diante dos desafios. Afinal, não desistir nas primeiras tentativas é o lado positivo da teimosia. O esforço no sentido de melhorar seu próprio desempenho será, sem dúvida, ainda mais produtivo se vier acompanhado da alegria do fazer bem feito.
Lembre-se de que diante de insucessos do menino, que provavelmente ocorrerão, é fundamental acolher os sentimentos de raiva e tristeza que chegarão junto. Assim ele aprenderá a conhecer e a lidar com suas próprias limitações, uma forma importante de desenvolver a sua estrutura emocional, que será necessária para toda a vida.
Mostre-lhe, sobretudo em palavras e ações, que os vencedores de hoje darão lugar aos de amanhã, ao ganharem a partida, concurso ou premiação. É essa alternância da vitória que ensina a competir e, ao entrar para ganhar, ter capacidade de lidar com a frustração e aceitar as perdas que fazem parte de qualquer competição.
Mais do almejar que seu filho seja o melhor, o seu desejo é, certamente, de que ele seja feliz e assim possa colaborar positivamente para uma sociedade melhor.
* Lucy Casolari é pedagoga e educadora
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