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Fertilização exige preparo físico e mental

Por Débora Seibel * em 15/08/2001


Dúvidas, medo, ansiedade, são sentimentos comuns aos casais que partem para a viagem da reprodução assistida.

A infertilidade pode ser uma das mais difíceis experiências da vida de um casal. Provavelmente só aqueles que de alguma forma estão envolvidos nesta questão são testemunhas ou vítimas do sofrimento frente ao fracasso do projeto gravidez.


Quanto mais experiência clínica tenho com o passar dos anos e, conseqüentemente, quanto mais casais tenho a oportunidade de acompanhar nesta dura etapa da vida, mais convencida fico da complexidade do assunto.


Quando tudo não ocorre como o esperado segundo as expectativas, ou seja, casar e ter filhos, o casal começa a se fazer uma infinidade de difíceis perguntas: O que está acontecendo conosco? Por que será que não estamos conseguindo? Será que precisamos procurar ajuda especializada? Será que é o destino? Por que conosco? Devemos contar para alguém? Bem, os questionamentos vão por aí afora.

Administrando a frustração

Já neste primeiro momento, a questão "expectativa versus frustração" se coloca como um sentimento quase inevitável. É claro que se não existirem outros projetos, outros interesses na vida destas pessoas, a expectativa com relação ao bebê aumenta consideravelmente e se esse desejo não se realiza, surge uma enorme frustração acompanhada de vazio e eventualmente depressão.



Um sonho que foi sendo alimentado pelo casal, pelo grupo social, parentes e amigos, começa a se parecer mais com um pesadelo e o quadro emocional que acompanha esta vivência é delicado e muitas vezes doloroso.


Tentar manejar esta situação é um enorme desafio para os casais que revelam a sensação de viver uma doença invisível que está sempre presente. Os sentimentos que mais freqüentemente acompanham os pacientes são: ansiedade, tristeza, frustração, medo, culpa e isolamento.

Milagres não existem!

Depois de ultrapassado este momento de perturbação e uma certa imobilidade, o casal se movimenta na direção de buscar ajuda e um novo drama se inicia. Porque o que muitas vezes ocorre na fantasia deles é que esta ajuda pode ser milagrosa. É esperado que o médico consiga a tão almejada gravidez, levando os casais a uma procura desesperada para descobrir onde estará o melhor médico, ou seja, aquele que será responsável pela realização do desejo. Sugestões de amigos, vizinhos, reportagens apontam em diferentes direções e muitas vezes atordoam o pensamento daqueles que precisam trilhar um caminho.


Encontrar uma saída milagrosa nós sabemos que não é possível, aliás, os próprios casais têm consciência de que algo está ocorrendo e que não há mágica e sim tratamentos. Mas a força do desejo, o enorme sofrimento associado às histórias contadas por aí se misturam e confundem a mente.

Os tratamentos disponíveis para ajudar os casais na jornada da infertilidade exigem muito do corpo e da mente. Por isso o preparo para enfrentar esta experiência é tão importante.

Fazendo um paralelo, apenas para ilustrar, é como se organizar para uma viagem: são fundamentais o conhecimento da situação, a possibilidade de conversar com a equipe e com outras pessoas que passam ou passaram pela mesma vivência, a decisão da melhor época, o respeito aos próprios limites, a possibilidade de expressar dúvidas, medos, ambigüidade e o conhecimento das chances reais.

Por mais dolorosa que seja, a realidade ainda é a melhor forma de procurar lidar com esta situação. É claro que os casais querem que alguém diminua ou retire o sofrimento deles, mas também querem alguém que compreenda essa dor. A idéia não é dissolver o desconforto emocional de forma cirúrgica, até porque isto não é possível, mas oferecer compreensão e suporte, compartilhando esse momento difícil.

Respeito pelos limites

A equipe de reprodução assistida deve oferecer ao casal a chance de obter informações sobre todos os procedimentos e o profissional de saúde mental pode auxiliar no processo de pensar essa situação tão complexa. Jamais podemos negligenciar os limites físicos, emocionais, sociais, religiosos e financeiros.


As ofertas tecnológicas devem se apoiar nas possibilidades pessoais de cada um. O limite de até onde ir é dado pelo casal, cabendo à equipe respeitar, orientar, acompanhar, alertar mas jamais impor ou desrespeitar a limitação do paciente.


Equipe e paciente são parceiros nesta caminhada e é exatamente este trabalho de "dupla" que possibilita ao paciente contar com os profissionais mas, fundamentalmente, usar seus recursos pessoais para atravessar esta jornada e buscar de forma menos sofrida um bem-estar durante o tratamento.


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