Quinta-feira, 28 de março de 2024
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A conquista da independência

Por Lucy Casolari *


Quando menos se espera, os filhos começam a ensaiar os primeiros vôos. Mas será que já está na hora de deixar o ninho?

Esses pedidos são sinais de que seu filhote está crescendo, o que é positivo, mas causam ansiedade porque trazem alterações, mudanças na rotina. Não existe receita nem fórmula para calcular se a criança já está pronta para enfrentar o desafio...


A sua maturidade será testada na prática, quando ficar na casa do amigo para dormir e realmente conseguir passar a noite. Às vezes, há uma discrepância entre o que o seu filho diz querer e o que realmente tem condições de fazer: deseja ir para a casa do amigo, mas na hora de ir para a cama sente saudades, pede para telefonar, quer voltar para casa.


Os pais, por sua vez, devem levar em conta algumas questões antes de decidir sobre um programa mais prolongado, longe da família.

Primeiras saídas

É comum que a criança chegue, excitada, com a idéia de dormir na casa do amigo - é claro - sem saber como são seus pais ou os hábitos da família. Ela simplesmente recebeu o convite e está entusiasmada com a novidade. Considere, então, algumas variáveis: se é a primeira vez que isso acontece, se você tem algum conhecimento dos anfitriões, qual a distância entre as duas casas.


Procure conversar com a mãe do amigo antes de decidir: isso pode lhe dar pistas sobre a família. Embora pareça exagero, é importante que você esteja tranqüila quanto às pessoas que ficarão com seu filho. Assunto resolvido, mochila arrumada, segure sua ansiedade, já é hora de levá-lo. E não deixe de combinar o horário em que irá buscar e como você pode ser encontrada em caso de necessidade.


No dia seguinte, evite submetê-lo a um extenso questionário: deixe que, aos poucos, ele revele o que sentiu, o que fez, enfim, como foi a experiência. Observe suas reações, mas não supervalorize eventuais queixas, afinal ele pode ter estranhado algumas coisas. Não se esqueça de que o contato com outras realidades ensina a conviver com a diversidade. Isso vale para os filhos e para os pais também!


Se você for chamada para buscar seu filho antes do combinado, procure não recriminá-lo, mas demonstre que, se dessa vez não deu, sempre haverá uma próxima. É uma forma de desenvolver sua autoconfiança, tão necessária para novas tentativas. Pois sem tentar, como pode saber se já é capaz?


Convites para viagens de final de semana certamente surgirão e o ideal é que sejam aceitos somente após experiências bem sucedidas com menor duração. Afinal, não é nada agradável ter que enfrentar a estrada, no meio da madrugada, para ir buscar o filho que está chorando de saudades, noutra cidade. Portanto se você não se sentir tranqüila, é melhor não deixar. Lembre-se de que a autorização, que tem a ver com autoridade, é uma das funções dos pais. Respeite sua intuição, mas não exagere nos cuidados e preocupações.

A escola organizou uma excursão

Essa proposta pode vir no sentido de promover a integração dos alunos, fortalecer o vínculo do grupo com os professores ou, ainda, para registrar a autonomia das crianças, a partir de um fato concreto. Essa programação, nas escolas de educação infantil, costuma se limitar a um pernoite, algumas vezes no próprio espaço da classe. É claro que as crianças ficam muito animadas diante dessa novidade. Dormir fora de casa, com os colegas e na escola, tem mesmo sabor de aventura e de muita farra!


Para os pais, nem sempre é tranqüilo deixá-las, ainda "tão pequenas", participar dessas atividades. Considere, em primeiro lugar, que a proposta está vindo da escola escolhida por você, o que pressupõe confiança. Além disso, esse é o espaço e o grupo mais próximos de seu filho, com os quais convive diariamente.


Verifique a infraestrutura para esse evento: quem está coordenando, quantos adultos estarão presentes e as providências quanto a atividades, alimentação e medicamentos. Se essas respostas satisfizerem suas expectativas, não há porque impedir uma experiência tão rica para a independência e autonomia.


Cuide para não exagerar nas exigências, afinal se a escola está promovendo o acantonamento ou excursão é porque deve ter avaliado cuidadosamente todas as implicações. Lembre-se de que a responsabilidade de cuidar dos filhos dos outros é algo que tira o sono de professoras e orientadoras que, nessas ocasiões, nem "pregam o olho" e só sossegam após devolver cada filhote são e salvo à sua família.

Preparando para a liberdade

Ser convidado para ir à casa de um amigo, retribuir recebendo em sua casa, participar de excursões e passar uma temporada das férias num acampamento são situações preciosas para desenvolver a autonomia, independência e a autoconfiança. Esses momentos ricos serão ainda melhores se forem acompanhados, no dia-a-dia, de outros que comprovem concretamente a capacidade da criança.


Dentro de casa algumas atividades como arrumar a cama, retirar o prato após a refeição e organizar o quarto podem se transformar em reforço da independência. Da mesma forma, a medida em que crescem, as crianças poderão ser incentivadas a ir até a banca comprar uma revista ou à padaria buscar os itens para o lanche da família. Claro que os cuidados e a vigilância serão maiores quanto às atividades que envolvem a rua, dependendo da localidade onde moram: um bairro movimentado ou um condomínio fechado.


A liberdade de sair sem a presença de um adulto é uma experiência importante para o crescimento e deve ser estimulada, mas também monitorada com bom senso pelos pais. Deixe seu filho fazer suas primeiras incursões e oriente-o quanto ao que evitar e como se cuidar. Nesse ir e vir, a criança constrói a independência ao mesmo tempo em que os pais vão se sentindo cada vez mais confiantes no pequeno ser que está crescendo.


* Lucy Casolari é pedagoga e educadora


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