Sábado, 17 de abril de 2021 | ![]() |
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Mania de perfeição
Fazer e refazer diversas vezes um desenho ou texto: sinal de determinação e capricho ou perfeccionismo? Diferencie as duas posturas para melhor ajudar seu filho. |
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Ao observar a sua criança envolvida em uma atividade, empenhada em alcançar bons resultados, os pais, naturalmente, ficam orgulhosos daquele ser ainda pequeno e já tão dedicado. Claro, todos sabem da importância de dar o melhor de si para chegar ao sucesso; e o mundo do trabalho tem reforçado, cada vez mais, a busca incessante da produtividade. Tudo isso vale para os adultos, mas no caso das crianças convém observar com cuidado para ter a percepção adequada e correta do quadro.
Ela quer fazer tudo bem feito, direitinho, caprichado nos mínimos detalhes. É capaz de apagar cada letra que não saiu a seu contento. A borracha, portanto, é o seu material mais precioso, pois com ela é possível corrigir e consertar tudo o que, a seu ver, ficou imperfeito. Suas idas e vindas em um mesmo trabalho são intermináveis, qualquer traço que considere "feio" ou indesejável precisa ser eliminado. Despende todos os esforços para alcançar o melhor resultado - mas nunca fica satisfeita -, é crítica severa de si mesma. De fato, essa é a maior diferença entre a criança preocupada com detalhes e a que tem mania de perfeição. Se seu filho passa horas montando uma cabaninha, organizando seus brinquedos ou armando um quebra-cabeça, mas ao final fica satisfeito e orgulhoso, fique tranqüilo. Preocupe-se, sim, se a reação dele for de constante insatisfação com os resultados.
Para o perfeccionista, fazer o melhor que pode é um verdadeiro tormento, uma vez que seus padrões de avaliação são, sempre, muito superiores às suas reais condições de realização. Todo esse processo, que gera muita angústia e ansiedade, torna-se mais visível no início da aprendizagem formal da alfabetização. Surgem, então, as repetidas crises de raiva, acompanhadas de choro colérico e atitudes de descontrole: a criança joga as coisas, rasga várias páginas do caderno e, por fim, grita, larga tudo, sai correndo.
Para aprender é preciso se permitir errar, isso vale para qualquer habilidade e qualquer idade, não é mesmo? Claro, no momento em que toma contato com novos conteúdos, o aprendiz poderá sempre acertar ou errar. As crianças, sobretudo na escola de educação infantil ou primeiras séries, sem dúvida, gostariam de ter somente acertos. Irritam-se com seus pequenos fracassos ou quando têm que refazer alguma tarefa. Mas, passado o primeiro impacto, retomam o trabalho para as necessárias correções, prosseguindo com suas atividades, e assim continuam aprendendo... enfrentando os obstáculos e desafios.
A criança perfeccionista, ao contrário, tem tanto medo de errar que não consegue a tranqüilidade necessária para empreender tentativas que possam resultar em fracasso. Por causa de sua baixa resistência à frustração, foge constantemente dos desafios ao invés de enfrentá-los, ou somente se arrisca se tiver certeza de que dará conta do recado com perfeição. Difícil, não? Principalmente porque essas atitudes acabam, inclusive, acentuando sua ansiedade diante de pessoas e situações desconhecidas e influenciando o seu comportamento social.
Segundo especialistas, o perfeccionismo pode ser um traço de personalidade transmitido geneticamente, ou influência do ambiente, uma vez que a maioria das crianças com esse perfil tem pais muito exigentes. A alta expectativa em relação ao desempenho escolar pode causar ansiedade na família e, conseqüentemente, na criança. Um primeiro cuidado é, certamente, fazer uma auto-avaliação para definir se não é esse o quadro de seu filho.
A influência da família pode ser sentida, também, de outras formas: na superproteção, na exigência de comportamentos muito rígidos ou sobrecarga de atividades extra-escolares. Pais que superprotegem passam ao filho, até sem perceber, a mensagem de que não confiam em sua capacidade, e este para tentar corresponder pode tornar-se perfeccionista.
Por outro lado, se a exigência estiver direcionada para a rigidez de comportamento, é difícil esperar da criança formas mais maleáveis de enfrentar os obstáculos. Se o foco dos pais estiver voltado para o que falta, fica para o filho a sensação de que nada do que ele fizer é bom o bastante.
Em alguns casos, querendo oferecer o máximo às crianças acaba-se errando a mão, sobrecarregando-as na tentativa de desenvolver todas as suas habilidades. O excesso de atividades envolvendo esportes, artes, música, línguas, informática, etc, acrescido de expectativas altas em relação ao seu desempenho pode aumentar a ansiedade. Lembre-se de que criança precisa brincar livremente, sem se preocupar com erros e acertos. Essa é a forma mais saudável de desenvolver suas habilidades.
A primeira medida é, sem dúvida, fazer uma análise da família. Reflita sobre os pontos que podem estar reforçando o seu comportamento e, se sentir necessidade, converse com a orientadora e a professora, que terão condições de ajudar e intervir no processo, pois observam e acompanham as suas reações na sala de aula.
O dia-a-dia oferece excelentes oportunidades para ajudar seu filho a ser menos exigente consigo mesmo e a enfrentar os obstáculos e imprevistos com maior jogo de cintura.
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