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De mulher para mulher

Por Carla Oliveira *


A relação entre mãe e filha é bastante complexa, mas também muito especial. Ao mesmo tempo em que brigam e disputam, uma não pode viver sem a outra.

Desde o início, existe uma intensa identificação entre mãe e filha, já que ambas compartilham características comuns ao sexo feminino e têm de lidar com problemas parecidos. Além disso, é natural das mulheres buscar intimidade nos seus relacionamentos, por isso mãe e filha tendem a estabelecer uma ligação muito próxima. Mas, apesar disso, existem outros fatores envolvidos nessa questão.

Segundo a terapeuta familiar Gisela Preuschoff, no livro "Criando Meninas", a relação que a garota tem com sua mãe é muito influenciada pela forma como esta se relaciona com a mãe dela. Se, ao longo dos anos, a mulher não pôde ter uma relação carinhosa com sua mãe, dificilmente será, ela mesma, uma mãe afetuosa. É bem provável que sua filha absorva esse modelo, não demonstrando muito carinho pela sua mãe e, mais tarde, pelas suas próprias filhas. O exemplo vai sendo transmitido de uma geração para outra.

Por isso, a especialista recomenda que, se você tem algum problema de relacionamento com sua filha, tente identificar e resolver, antes de tudo, os conflitos que você tem com sua mãe, pois eles podem ser a origem dessa dificuldade. A psicanalista Malvine Zalcberg, autora de "A Relação Mãe e Filha", defende em seu livro que é possível modificar esse padrão de comportamento e que as mulheres devem estar atentas para não repetir com suas filhas as mesmas questões problemáticas que tiveram com suas mães.

A terapeuta familiar Ângela Martins, de Sorocaba (SP), também concorda que o modelo vivido pela mãe em sua família influencia o modo com ela desempenha seu papel e afirma que isso pode ser mais importante do que o fato de seu filho pertencer ao sexo masculino ou feminino. "Nem sempre os relacionamentos entre mães e filhos se pautam pelas diferenças de gênero, determinando que as mães atuem de maneira diferente no trato com a filha ou com o filho", ressalta.

Amigas sim, mas diferentes

No entanto, a relação entre mãe e filha envolve algumas questões bastante peculiares. A amizade entre ambas costuma ser bem explícita, pois as mulheres gostam de conversar e expressar seus sentimentos, o que facilita a aproximação e o diálogo. Já os meninos são mais fechados e não gostam de demonstrar suas fraquezas e preocupações, o que impede o estabelecimento de uma intimidade maior com a mãe, ainda que a amizade esteja presente.

Para Ângela, a amizade entre a mãe e a filha é uma fator positivo, desde que a hierarquia familiar seja mantida, isto é, que a mãe atue com autoridade nos momentos necessários, sem descuidar da sua função materna. Por isso, é ótimo que você possa conversar com sua filha sobre vários assuntos, que vocês saiam juntas e confiem uma na outra, mas não se esqueça de que também é fundamental impor limites e dar broncas sempre que for preciso.

Além disso, deve-se ter em mente que, embora possam ter uma relação íntima e amorosa, mãe e filha são pessoas diferentes, com personalidades distintas. Em alguns casos, a mãe transfere seus sonhos e desejos não realizados para a filha, vendo nela a chance de realizar tudo aquilo que ela não conseguiu em sua própria vida. "É quando perde de vista a própria filha, com suas características individuais e únicas, tentando, inconscientemente, torná-la sua imagem e semelhança", explica Ângela Martins.

O que ocorre nesse caso, de acordo com a terapeuta, é que a filha não se sente reconhecida. "A mensagem de amor que a mãe demonstra pode ter duplo sentido, neutralizando a possibilidade da filha realmente se sentir amada", afirma. Essa situação pode provocar uma pressão muito grande para a menina, que se distancia cada vez mais de seus próprios desejos e objetivos. "É doloroso. Vira uma prisão. Às vezes, o grito de libertação pode vir de uma forma muito rebelde, ou até mesmo auto-destrutiva", alerta Ângela.

E a menina vira mocinha...

Mas, nem tudo são flores no relacionamento entre mãe e filha. Um elemento ruim que pode estar presente é a rivalidade, que geralmente aparece como resultado de inseguranças, desejo de aprovação ou até mesmo uma disputa de poder entre elas. O ciúme é outro sentimento que atrapalha esta relação, principalmente quando a garota começa a namorar. O instinto protetor da mãe fala mais alto e ela acredita que alguém possa "roubar" sua filha.

Quando a menina atinge a puberdade, as brigas tornam-se constantes e pode haver um afastamento. Segundo Ângela Martins, a partir dessa fase, a menina passa a fazer mais escolhas individuais, a se encontrar com as amigas freqüentemente e manter segredos, o que pode incomodar as mães. "Elas podem sentir-se preteridas e pouco valorizadas, já que deixam de ser a pessoa mais importante na vida das filhas", explica.

Mas, nada é capaz de diminuir a importância da mãe na vida da sua filha. "A mãe é modelo de mulher, de feminino, de companheira, de profissional, de afeto, enfim, é uma referência para que cada filha construa sua própria identidade, com diferenças e semelhanças. É um ser que, quando acolhe, assegura a ela a sensação de ser amada, de ser querida, de ser especial. A mãe exerce grande influência na construção do amor próprio", define Ângela Martins.


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