Terça, 19 de março de 2024
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Ah... a paixão pela professora!

Por Lucy Casolari *


Os olhinhos estão brilhantes, os bilhetes caprichados e, quando sai para a aula, ele sempre dá um jeito de levar uma flor, um bombom... Seu filho caiu de amores pela professora!

Tudo isso pode ser muito bom para o seu garoto. O afeto que sente estimula seu interesse pela aprendizagem, pois para agradar a querida mestra ele fará, sem dúvida, as lições com o maior empenho. Todos concordam que um bom relacionamento é essencial para o desenvolvimento escolar. Mas as mães, diante dessa situação, muitas vezes se questionam se tudo é tão tranqüilo. Ficam inquietas quando observam o seu menino falando demais na professora, demonstrando excessiva admiração, escrevendo cartas colocadas em envelopes fechados e, cuidadosamente, escondidas na mochila...


Se isso acontece até os 7 ou 8 anos, segundo os psicólogos, não há motivo para tanta preocupação: são quadros rotineiros e considerados normais. Afinal, quando as crianças iniciam a vida escolar costumam enxergar a professora como aquela que está representando a família, sua principal referência, seu porto seguro. Na sala de aula é, inclusive, muito comum chamarem pela mãe, quando pedem alguma ajuda nas tarefas, se machucam ou sentem dores. A partir desse vínculo tão forte, a professora pode vir a ser o primeiro grande amor de um aluno.

Quando a paixão bate

Algumas crianças são mais susceptíveis a essas paixões: pode-se dizer que sua autocensura é menor e, conseqüentemente, têm mais facilidade para lidar com seus sentimentos. Nesse caso, o garoto estará desenvolvendo, ainda, mais a sua capacidade de se expressar afetivamente. Outros, por sua vez, se debatem entre o que sentem realmente e o temor de não serem correspondidos ou de serem ridicularizados pelos colegas.


A sensibilidade da professora será fundamental para perceber e acolher as emoções desses alunos, dando-lhes algum tipo de retorno positivo. Ao demonstrar que percebe e valoriza seus esforços para agradá-la, por exemplo, estará favorecendo que reconheçam tais sentimentos como legítimos.


De todo modo, é importante que bilhetes ou presentinhos sejam recebidos com afeto, para que os apaixonados se sintam acolhidos. Da mesma forma, deve ficar claro, para eles, que a professora é de todos os alunos da classe e, portanto, precisa atender a todos. Assim, os "românticos de plantão" terão que dividi-la com os outros, sem direito a privilégios ou atenções especiais.

Lidando com o apaixonado em casa

Ao perceber essas situações, a postura dos pais de acolhimento e respeito aos sentimentos da criança poderá garantir uma maior tranqüilidade no desenrolar da história. Procure evitar, portanto, os comentários jocosos ou a exposição de seu filho diante de pessoas não tão próximas.Talvez ocorram momentos mais difíceis, pois a professora estará sempre "certa", comparada aos pais que estarão sempre "errados".


Lembre-se de que essa é uma reação típica dos enamorados que não conseguem perceber os defeitos e falhas de seu objeto da paixão. Se a família se sentir atingida e reagindo de forma contrária, tudo tende a se complicar. A mãe, principalmente, precisa manter o equilíbrio e a calma e não enxergar a professora como rival, ou sentir ciúmes dela. Passado o auge da paixão, tudo tende novamente à normalidade e o garoto vai, aos poucos, conseguir elaborar esse grande amor.


Da mesma forma que esse sentimento é positivo ao estimular o interesse em aprender e um bom rendimento, é necessário que os pais estejam atentos para perceber se a criança não está dependente demais da professora. Se estiver requisitando sua ajuda, a todo momento, até para realizar o que já poderia resolver com mais autonomia, é possível que a paixão esteja atrapalhando o seu crescimento.


Se a ligação estiver tão forte que o menino só tem olhos para a mestra e deixa de se relacionar com os colegas de classe, o caso merece, também, uma observação mais próxima. De qualquer maneira, é importante que os pais entrem em contato com a escola para terem informações mais precisas e detalhadas. A professora e a orientadora terão condições de avaliar o que acontece dentro da sala de aula e de discutir com a família a melhor forma de acompanhar e lidar com a situação.

Outros amores

Muitos adultos se lembram de um mestre especial a quem dirigiram todo seu afeto e carinho, embora não fosse do sexo oposto. Pode não ter sido um grande amor, mas deixou, certamente, boas lembranças e saudades. Isso acontece com as meninas e, também, com os meninos. As garotas quando tomadas de encantamento pela professora procuram imitá-la nas roupas, cabelos e nos jeitos de falar e andar. Claro, fazem de tudo para agradá-la: capricham nas lições, ajudam em classe, carregam seus materiais, apagam a lousa, e escrevem bilhetes carinhosos.


Os meninos, por sua vez, quando veneram o professor, fazem de tudo para se aproximar dele, puxam conversa, imitam sua forma de falar, procuram descobrir seus gostos, se esmeram nas pesquisas, citam com muita freqüência e admiração suas opiniões e brincadeiras.

Aprender a conviver

Ao longo da vida escolar, as crianças terão contato e formarão vínculos de afeto com muitos professores.. Gostarão muito de alguns, um pouco menos de outros e haverá aqueles que serão simplesmente suportados... Podem acontecer, inclusive, casos de total incompatibilidade, absoluta falta de empatia, o que é bem difícil de lidar. Em qualquer dos casos, haverá sempre o tempo de se envolver afetivamente e, em algum momento, a hora de se desligar, pois professores são vínculos transitórios na vida dos seus alunos.


Essa convivência diversificada ensina as crianças a lidar com uma quantidade maior de pessoas, além da família. É, sem dúvida, uma das funções mais importantes da escola. Possibilita a oportunidade de ampliar o círculo de relações e de experimentar uma gama maior de afetos, passando pelo amor, admiração, tolerância e, às vezes, quase ódio. Lidar com tudo isso é uma experiência fundamental para o desenvolvimento emocional, e é para isso, também, que crianças precisam freqüentar a escola.


* Lucy Casolari é pedagoga e educadora


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